REFERÊNCIA OLAR
MARGARITA, LA MOVIOLA
As montadoras Caíta Villalón (Cuba) e Gloria Schoemann (México) trabalharam ao lado de grandes pioneiras, como Sara Gómez e Matilde Landeta, respectivamente. A presença dessas mulheres, essenciais na criação de obras clássicas em seus países, é a evidência de que haviam outras mulheres, além das poucas diretoras, ocupando lugares de decisão e criatividade ao longo da história do cinema.
Embora a montagem seja chamada de “a técnica original do cinema”, as pessoas responsáveis por modelar as narrativas nas ilhas de edição raramente recebem o devido reconhecimento. Nos inspiramos no Coletivo Cine Mujeres Colômbia, que entre 1978 e 1999 editaram dezenas de filmes que trabalham a linguagem e a imagem ao redor do tema da mulher latino-americana. Foram editados filmes 35mm e 16mm na pesada moviola e verde que o coletivo chamava de “Margarita”, o que nos faz pensar sobre a importância fundamental da montagem na criação cinematográfica.
Nesta edição, homenageamos mulheres que transformam materiais brutos em narrativas que nos emocionam. Celebramos as montadoras brasileiras Natara Ney e Virginia Flores, com a exibição de duas obras que nasceram no coração da montagem, ressignificando arquivos e revelando novas histórias.
![Natara_Divulga_03.jpg](https://static.wixstatic.com/media/a9cb91_ef31f7402402441e92f7ec26552745e1~mv2.jpg/v1/crop/x_0,y_31,w_3456,h_3911/fill/w_334,h_378,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/Natara_Divulga_03.jpg)
NATARA NEY
Natara Ney nasceu em Olinda e se formou em jornalismo pela PUC-PE, começando sua carreira com um estágio na TV Pernambuco como editora. Foi durante esse período que se aproximou de diretores importantes da “Retomada do Cinema Pernambucano”, como Paulo Caldas, com quem mais tarde colaboraria ao editar seu primeiro longa-metragem, O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas (2000). Esse trabalho aconteceu já em sua fase no Rio de Janeiro, onde também realizou diversas assistências de montagem e foi premiada por muitos dos filmes nos quais trabalhou.
Em 2008, ganhou o Kikito de Melhor Montagem por Juventude (Domingos de Oliveira). Também foi duas vezes premiada com o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2009 por Mistério do Samba e em 2018 por Divinas Divas (Leandra Leal). Ela já trabalhou em mais de 20 longas-metragens, cinco séries para TV e vários videoclipes. Foi também roteirista de documentários como A Última Abolição, Além Hamlet, Divinas Divas e Cafi.
Natara conta que foi a aproximação com o cinema negro que a fez se enxegar como uma diretora. Ela estreou com o premiado curta Um Outro Ensaio (2010), também dirigiu os longas Cafi (2019), Espero Que Esta te Encontre e que Estejas Bem (2020) e Elza Infinita (2021), premiado no “New York Film Festivals”.
Assista na sala de cinema o longa-metragem, Espero Que Esta te Encontre e Que Estejas Bem (2020), premiado como Melhor Documentário no FESTin 2021, parte de cartas de amor encontradas por Natara em uma pesquisa, levando-a a explorar a história de um casal anônimo. Numa jornada de descoberta sobre o amor, o tempo e a memória, a diretora busca descobrir o desfecho do romance.
![Virginia Flores.jpg](https://static.wixstatic.com/media/a9cb91_4bb437ef5b7444c192b06d7e9d236ea5~mv2.jpg/v1/crop/x_275,y_0,w_894,h_958/fill/w_334,h_358,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/Virginia%20Flores.jpg)
VIRGINIA FLORES
Virginia Flores trabalha com cinema desde 1975, e em 1988 formou-se em Design de Som pelo National Film Board do Canadá, uma área inovadora no cinema brasileiro da época e foi design de som de muitos filmes, passando também à montagem. Quando a Embrafilme foi extinta em 1990, a produção de filmes brasileiros desacelerou, e como muitos de seus colegas, Virginia se afastou temporariamente do cinema. Anos depois, com a Retomada do Cinema Brasileiro, a indústria foi revitalizada através de novas leis de incentivo.
Virginia Flores editou a trilha sonora de mais de 30 longa-metragens e se expandiu para a montagem. Recebeu duas vezes o prêmio de Melhor Montagem no Festival de Brasília, em 1996 por Pequeno Dicionário Amoroso (Sandra Werneck) e em 1997 por Miramar (Julio Bressane). Desde 2000, Virginia também deu aula em várias universidades, como Gama Filho, Universidade Federal Fluminense e alguns cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Em 2006, ela terminou seu Mestrado em Música (UFRJ) e em 2013 terminou seu doutorado em Multimeio (Unicamp). Atualmente é pesquisadora e professora de montagem e preservação na UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana) e pós-doutora em Cinema pela UFF (2020).
Assista na sala de cinema seu curta-metragem Na Trilha do Bonde (2009), que parte de um experimento com materiais de arquivo e reconstroi o caminho do bondinho de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, criando uma paisagem sonora para as imagens “mudas” do caminho dos trilhos do bonde. Este trabalho lhe rendeu prêmios de Melhor Trilha Sonora no RECINE e Menção Honrosa no CineSul, em 2011.